quarta-feira, 18 de junho de 2008

Haikai (I)

No outono

a alma entregue em paz:

ditados do coração.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Carmina Burana

Veris leta facies

A alegre face da primavera
Volta-se para o mundo,
O rigoroso inverno
Já foge vencido,
Com sua colorida vestimenta
Flora preside,
Docemente a floresta
Em cantos a celebra. Ah!

Estendido no regaço de Flora
Febo mais uma vez
Sorri, agora coberto
De flores multicores.
Zéfiro respira
Seu suave odor,
Corramos a concorrer
Ao prêmio do amor. Ah!

O doce rouxinol
Faz soar sua lira,
Já riem
As luminosas clareiras floridas,
Saem os pássaros e revoada
Dos bosques encantadores,
E o coro das donzelas
Anuncia delícias mil. Ah!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Que seja doce

Era uma toalha branca. Dois pratos brancos, com detalhes quadriculados nas bordas. E dois copos pequenos.

Em um dos pratos, maçãs fatiadas e cuidadosamente arrumadas. Entre as fatias das maçãs, balinhas coloridas. Depois vieram os bombons, recheados de pedaços de cerejas e licor, colocados entre as fatias de maças e as balinhas coloridas.

No outro prato, dois copos vazios. Que esperavam receber o líquido que brindaria o mágico momento.

Fechando o ciclo, uma folha seca, representando a natureza outonal e três conchas do mar que pelo fato delas guardarem um pouquinho do território de segredos, através da misteriosa acústica que reproduz as ondas oceânicas, tornou-se o símbolo da fecundação, eternizando os momentos.

E como num ritual de contemplação à memória, em todas as outras manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, repete sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce que seja doce que seja doce que seja doce que seja doce.

Outono, Junho de 2008.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Navegar é preciso... Viver não é preciso



Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só.
Amir Klink


p.s. Adorei a Palestra: Administração de Riscos.

(II)

Agora a menina é uma mulher. Com uma dor, deixada em segundo plano.

Respeitando a escolha. Violentando a vontade e suportando a convivência com aqueles pedaços dela.

Não olhava para trás. Não parava para pensar na falta. Apenas agradecia porque aquele sofrimento tinha acabado. Ainda levou um tempo para lembrar.

Uma mulher-adulta, onde a criança recorda da mãe que, aos poucos, foi desaparecendo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

(I)



- Menina, sapato virado pra baixo, é agouro. A mãe morre! Gritava à avó, na cozinha.

E a menina corria e desvirava todos os sapatos e esperava sorrindo com isso o agradecimento de Deus por ela ter salvado a mãe.

E voltava a correr pela casa. Feliz e inocente.

Solilóquio a Virgina Wolf ou Sobre os silêncios necessários

Ela saiu decidida a comprar as flores naquela manhã de maio. Era quase junho, onde tudo refulgia.

E com seu chapéu de plumas que combinava com a sombrinha e a echarpe em tons amarelados, estava certa de que "o seu único dom era conhecer as criaturas quase por instinto".

Andarilha
Outono,Maio, 2008